terça-feira, 2 de abril de 2013

Bondade. Paixão. Maldade


por Marcos Spagnuolo Souza - marcospagnuolo@uol.com.br

No planeta Terra, já existiram inúmeras civilizações cada uma com sua cultura específica e em cada uma delas com suas concepções próprias de bondade, paixão e maldade. Não podemos afirmar que existe um paradigma eterno para as ações que denominamos de bondade, o mesmo ocorrendo para as concepções de paixão e maldade.

Civilizações passadas consideravam a antropofagia um valor, que para eles, estava na dimensão da bondade, pois se alimentando do corpo de um valoroso guerreiro estaria injetando em si os aspectos psíquicos somáticos do sacrificado; assim sendo, o sacrificador pensava que era beneficiado. Antropofagia sendo um ato louvável, digno inclusive da nobreza.

Nas aldeias do Canadá e Sibéria os velhos que não tinham condições de seguir os constantes deslocamentos das tribos eram sacrificados e o sacrificador tinha em si que estava fazendo um ato de extrema bondade. Nas guerras, muitos feridos são sacrificados para não continuarem sofrendo e quem os sacrifica pensa que está fazendo um ato de benevolência aos feridos.

Os litígios entre duas pessoas, na Germânia, eram resolvidos com a guerra, não se preocupando em desvelar a verdade e, na França, o duelo era uma prática para colocar fim a uma pendência entre cidadãos. Em Roma, o infanticídio era considerado um ato positivo se o nascimento de uma pessoa revelasse algum tipo de defeito físico.

Durante o período paleolítico e neolítico predominou a endogamia, poliandria e poligamia. Na civilização Egípcia, a família era estruturada em torno da monogamia; no entanto, a concubinagem era uma instituição respeitada. O incesto era permitido. Na cultura hebraica, a família incluía os escravos e pessoas que trabalhavam para o patriarcado, predominando a monogamia, poligamia e poliandria, além da concubinagem. Na civilização romana, a família era estruturada em torno da monogamia e concubinagem. Na Idade Média e civilização cristã houve a institucionalização da monogamia e existência do amantismo.

Na guerra, uma pessoa bondosa não é considerada, pois o aspecto básico é a emersão da maldade ou violência. Na paz, a bondade é um valor estimulado e a maldade um aspecto a ser combatido, inclusive com a própria maldade.

Estamos elaborando essa abordagem para mostrar que as concepções de certo e errado, bondade e maldade estão relacionadas aos aspectos culturais temporais não existindo um paradigma eterno e imutável dos dois termos. Os nossos atuais valores que cultivamos de bondade e maldade resultam do iluminismo eurocentro que tentou superar os valores da Idade Média.

Não podemos dizer que vamos para o "céu", "paraíso" ou "inferno" fundamentados nos valores que atualmente praticamos, pois são valores relacionados com a cultura de cada época. Os filósofos vedantas dizem que tanto a bondade, maldade e paixão são atividades responsáveis pelo aprisionamento da essência humana ao planeta depois que o corpo material morre gerando novas reencarnações. Quanto mais nós reencarnamos maior é a penetração no negrume do mundo material.

Os vedantistas dizem que "nitya-dharma" é a natureza eterna da essência humana e "naimittika-dharma" é a função temporária (bondade, maldade e paixão), sendo que o objetivo da essência humana é transcender as funções temporárias e se posicionar em uma plataforma de consciência que seja transcendente a toda e qualquer concepção racional de bondade, maldade ou paixão. Através da transcendência das funções temporárias, a essência não mais volta a reencarnar e penetra em uma dimensão que não existe espaço/tempo/forma. A meta da vida é ir além de todos os valores conhecidos que é o niilismo existencial da racionalidade humana.
Fonte:http://www.somostodosum.ig.com.br/

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